domingo, 14 de janeiro de 2007

Impressão II

Tradução do texto presente na 1ª edição de 1515 da xilogravura de Dürer:
"No dia 1º de maio de 1513 (deve ser lido 1515) foi trazido da Índia para Lisboa, como oferta para o grande e poderoso rei Manuel de Portugal, um animal vivo chamado rinoceronte. Sua forma é aqui representada. Ele tem a cor de uma tartaruga salpicada (homopus signatus) e é coberto por grossas escamas. É semelhante a um elefante em tamanho, mas de pernas mais curtas e é quase invulnerável. Tem um forte e afiado chifre sobre o seu nariz, que ele afia nas pedras. O estúpido animal é, do elefante, o inimigo mortal. O elefante tem muito medo dele pois, quando se encontram, o rinoceronte corre com a cabeça abaixada entre as pernas dianteiras do animal e rasga-lhe o estômago com seu chifre, estrangulando-o, de modo que o elefante não pode se defender. Por ser este animal tão bem armado, não há o que o elefante possa fazer contra ele. É também dito que o rinoceronte é rápido, impetuoso e astuto."

"Nota: as informações contidas nos parenteses são do tradutor."

Albert Durer, 1515
Conrad Gesner, 1557

A extraordinária similitude entre a gravura de Gesner, History of Animals (não sei qual a técnica usada) e a xilogravura de Durer (1ª edição de 1515), levam-me a questionar a imagem enquanto construção do real. As duas imagens inserem-se no universo dos bestiários, nos retratos feitos a partir de descrições de animais observados e/ou imaginados. Estas colecções de representações do mundo animal e vegetal povoaram a Europa da Idade Média até ao Iluminismo, estando a sua provável origem na tradição oral. Conrad Gesner, botânico e naturalista do século XVI, viveu a sua curiosidade pelo mundo animal usando na sua obra uma técnica inovadora à época, a ilustração. Também ele não fez observação directa, ao que consta, de rinocerontes, mas é irrefutavelmente influenciado pela representação de Durer, ao ponto de ter de se procurar na água-forte do documento a autoria do mesmo. Esta dúvida, a autoria, remete-nos obviamente para outra questão, ou seja para a origem de determinada imagem, seja ela mental ou visual. Mas não é isso o que está neste momento em discussão. O que parece ser impossível, é fugir à assunção do facto destas imagens constituirem, elas próprias, conhecimento. De serem categorias de análise ao dispor do homem, no conhecimento do mundo natural.

Jan Jonston, 1660

Fontes consultadas:

http://www.artebr.com/lambelambe/historia.html

http://www.thebritishmuseum.ac.uk/compass/

http://www.humi.keio.ac.jp/treasures/nature/Gesner-web/highlight/html/sai1557.html

http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/B/bestiario.htm

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