sábado, 30 de junho de 2007

Blind Date

Era uma vez… era uma vez uma mulher canhota, talvez não tanto como no texto do Peter Handke, mas igualmente líquida e inquieta. Sei isso porque a polifonia dos seus dedos circunscreviam uma solidão desesperada. Esta mulher de que falo, conheci-a, ou melhor, ouvi-lhe as palavras, num chat room. Os seus inúmeros nicks eram links de arquétipos românticos… eruditos, por isso vulgares. Desconcertava-me tamanho espartilho e clausura. Sempre que a reconhecia pelo seu vazio entre o vasto número de utilizadores do canal, brincava, chamando-lhe Marnie perguntava-lhe que cor tinha então o seu cabelo, na fuga… As suas múltiplas imagens pensavam-se em mim, materializando-se, e apesar de não lhe conhecer a textura da voz, ela só podia ter todas as faces, sorrisos e brilhos da Gena Rowlands

Escolhi vermos juntos este filme do Wong Kar-Wai porque a música sublinha na perfeição esta espera.

Não consegui esperar lá dentro! Não sei porquê… Era uma vez uma mulher canhota…
Estou nervoso? Claro que estou nervoso! Fomos longe demais nas nossas lucubrações… Combinámos que a esperaria sentado no lugar e lhe deixaria o bilhete reservado… na bilheteira… que assistiríamos ao filme lado a lado, só isso…

Ela é todas as que por aqui passam naquela direcção, não podendo nesta ser nenhuma… Tenho vontade de fechar os olhos, e ler-lhe os passos. Será ela agora, apressada? Ou será que também a ela lhe faltou coragem, enviando alguém no seu lugar?

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